domingo, 31 de outubro de 2010

O som do vento

O som do vento
Rio de Janeiro, 06/10/2010

Não sabemos
de onde o vento vem
nem para onde ele vai.
Mas ele passa
e sentimos apenas.

Dias e noites, horas a fio,
a mente a mil, não para.
O corpo está cansado e só,
no escuro da vida.

Somos estranhos
a nós mesmos.
Andamos pela estrada
e ouvimos a brisa
pelo caminho sem fim.

Não entendemos
nem percebemos
e talvez não devemos
Pois só nos resta andar
sempre em frente.

Não sabemos
de onde o vento vem
nem para onde ele vai.
Mas ele passa
e sentimos apenas.

Daniel Braga

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Novos dias

Novos dias
Rio de Janeiro, 24/09/2010


Certa vez eu sonhei,
lutei e vivi,
mas no final
eu apenas perdi.

Os dias se arrastam,
as noites são longas,
o silêncio grita
e o peito dói.

A distância é veneno.
A lembrança é droga.
A dor é vazio.
Não sobrou nada.

Olho para trás
e vejo o caminho.
Antes verde e cálido
hoje é apenas ruína.

O vento me empurra
para lugares novos
estranhos e distantes
e meus pés doem.

Sigo sem saber,
sem acreditar.
A esperança é um sonho
mas não consigo dormir.

Sinto a mão da criança
apertar a minha
mas ela não está lá.
Nada mais está.

Ainda não chorei
mas olho para frente
vendo o horizonte
zombando de mim.

Certa vez eu sonhei,
lutei e vivi,
mas no final
eu apenas perdi.

Daniel Braga

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sambajazz

Sambajazz

Rio de Janeiro, 11/09/2010

O som do jazz
tocando ao fundo,
ritmo da alma.

A voz da moça
presente raro,
pérola da bossa.

Vinhos e pães
como dádiva divina,
aromas e sabores.

Um papo bom sem compromisso
de amigos antigos
recém apresentados.

Sambajazz
Sabores e tons,
Amores e sons.

Daniel Braga

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O gárgula se levanta

O gárgula se levanta

Rio de Janeiro, 31/08/2010

Estou saindo do mausoléu
para uma nova vida
e luz do sol
queima meus olhos.

Velhos músculos ganham vida
e o coração bate novamente
enquanto a porta range
gritando para mim.

É o som da solidão
que não nos deixa pensar
tentando nos afastar
de tudo que existe.

Mas o velho gárgula
se levantou mais uma vez
e olha o horizonte
e o sol brilhante.

Mesmo ofuscado pela luz
em seu rosto podemos ver
que um sorriso nasceu
tímido mas forte.

Suas asas arriscam,
experimentam e se abrem
relebrando como era bom
voar sem medo.

Estou saindo do mausoléu
para uma nova vida
e luz do sol
me mostra que estou vivo.


Daniel Braga

sábado, 23 de outubro de 2010

O retorno da maldição

O retorno da maldição

Rio de Janeiro, 23/10/2010

A maldição voltou
não há controle,
nem existe razão.
E com ela
o sofrimento se instalou
sem dó
nem compaixão.

Maldito gárgula!
Maldito ser!
Sua vida não é sua!
Nem vida ele tem!

Mesmo tentando
ele não vê o sol.
Mesmo querendo
ele não consegue voar.
Prisioneiro do capricho.
Réu da covardia.
Vítima do descaso.

Ele luta em vão.
Se debate desesperado.
Mas não existe luz,
Nem tampouco grilhão.
Carne vira pedra.
Pedra vira solidão.
Sua mente: a prisão.
Seu executor: o coração.

Maldito gárgula!
Maldito ser!
Sua vida não é sua!
Nem vida ele tem!

Daniel Braga

Névoa

Névoa

Rio de Janeiro, 2009
O céu fofocou à nuvem
como aquela lagoa era bela.

Vira e mexe
ela vinha
espiar de longe.

Então se viu no espelho d'água
e como Narciso
se apaixonou
pela própria imagem

Hoje ela resolveu beijar
aquela linda nuvem.

Lagoa e nuvem.

Daniel Braga

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Permita permitir-se

Permita permitir-se
Rio de Janeiro, 10/06/2009

Não se feche em idéias
hábitos pré-concebidos
condicionados.

Permita permitir-se.
Permita-se conhecer coisas novas.

Desafie-se.
Surpreenda-se.
Redescubra-se

E olhe o horizonte
pois ele com certeza mudou!

Daniel Braga

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Minha Lagoa

Minha Lagoa

Rio de Janeiro, 21/10/2010

És minha paz.
És imensidão.
És segredo.
És superação.

És beleza.
És tranquilidade.
És sonho.
És profundidade.

És linda.
És fonte.
És desejo.
És horizonte.

És desafio.
És saudade.
És carinho.
És piedade.

És apenas minha
Lagoa.

Daniel Braga

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Começando o dia

Começando o dia

Rio de Janeiro, 14/05/2009

Ilha do Governador, noite ainda,
acordei, tudo escuro,
sobre o carro, orvalho,
ocultando, escondendo,
sonolento, véu de proteção,

Tijuca, maluca,
trânsito, confusão,
deixa filho no colégio,
rádio tocando,
notícia de corrupção.

Lagoa, prenúncio,
espetacular, natural,
moldura, divinal,
tranquilidade, vida,
sonho, ilusão.

Ipanema, sol quente,
brisa gostosa, envolvente,
andando pela rua,
lembrança de moleque,
dia de praia, sem compromisso.

Fui trabalhar.

Daniel Braga

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Primeiros dias

Primeiros dias

Rio de Janeiro, 14/09/2010

Os velhos medos acordaram.
Os velhos anseios renasceram.
Nõ sou mais um jovem perdido.
Pela primeira vez em anos me vejo só.
Sozinho como nunca estive
em meio a escuridão.
Preciso encontrar meu caminho
andando como posso.
Devo manter minha cabeça erguida
mesmo que as pernas fraquejem.

E o caminho já não parece tão longo,
mas é desconhecido, incerto.
Escrever é andar.
Andar é viver.
Eu preciso viver!

Daniel Braga

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Infortúnio

Infortúnio
Rio de Janeiro, 07/02/1998

Já não estamos
caminhando juntos.
Estamos perdidos
e gritando.
O brado ecoa
em meio a multidão.
Um não mais
escuta o outro.
São muitos rostos
e poucos são conhecidos.
Estamos nos procurando
mas nos desencontramos.
Somos somente
mais uma voz,
e as palavras
o vento leva...


Daniel Braga

domingo, 17 de outubro de 2010

Botafogo

Botafogo

Rio de Janeiro, 27/10/1999

Engraçado andar
Por lugares tão conhecidos
E então ver que
Você já não se conhece mais.

As luzes da rua
Continuam iguais
E a noite levemente depressiva
Fazendo-o lembrar de viver.

Sozinho você vai vagar
E ninguém aparece
Mas estão todos lá
Como da última vez que os viu.

Já faz tempo
E a saudade bate o peito.
Quem sabe um dia
Você volta para lá?

Agora você é um estranho
E tua antiga morada
Está como um museu
Cheio de coisas velhas.

Engraçado andar
Por lugares tão conhecidos
E então ver que
Você já não se conhece mais.

Daniel Braga

sábado, 16 de outubro de 2010

Saudade apertada

Esta poesia eu fiz para minha linda filha Luiza.

Saudade apertada
Rio de Janeiro, 03/04/2000

Tu não sabes
Como tua falta
Se faz dolorosa
E tua felicidade descompromissada
Me dá alegria e nostalgia.
Quando estou contigo
Sou mais,
Estou voando em céu limpo
Sem nuvens de angústia
Ou tristeza.
Sem ti nada mais sou que poeira
Voando sem rumo,
Empurrada pelo vento seco.
Preciso de ti
como nunca imaginei
e precisas de mim
para sorrir
e soltar uma gostosa gargalhada
quando uma cosquinha eu fizer.

Daniel Braga

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Lagoa, espelho da vida

Lagoa, espelho da vida

Rio de Janeiro, 15/10/2010

Olho para frente
e penso no quanto andei
e vejo que mesmo assim
ainda não me conheço.

Percebo então
minha própria vida
no espelho da Lagoa.
Enorme.
Desafiadora.
Enigma sem fim.

Suas margens próximas,
presente.
Seu fundo, escuro,
passado.
Seu lindo horizonte
futuro.

A mudança constante,
por vezes brisa,
por vezes vento,
toca a àgua,
cria ondas
mexe em tudo.

Só quero alcançar
a margem oposta,
o futuro,
a utopia,
o sonho.

E ao olhar para trás,
pensarei no quanto andei
e verei que mesmo assim
ainda não me conheço.
Daniel Braga

Ode à um Professor

Este poema foi feito em homenagem ao Professor Ney Cardoso, que foi em minha vida, um grande mestre e amigo além de um exemplo de vida!


Ode à um Professor
Rio de Janeiro, 16/01/1990

Crescer, amadurecer:
            o Senhor me ajudou em grande parte.
Viver, sobreviver:
            o Senhor me ensinou em grande parte.
Amar:
            o Senhor me provou que ainda existe esta arte.
Amizade:
            O Senhor tem a minha para sempre.
Admiração:
            Eu aprendi a tê-la pelo Senhor.

            Eu amo o Senhor:
                        como pai,
                        como avô,
                        como mestre,
                        como pessoa,
                        como AMIGO.

            Obrigado Professor.


Daniel Braga

Poema de ônibus

Poema de ônibus

Rio de Janeiro, 07/11/2008

Estava quente naquele ônibus
quando percebi,
invisível,
sobre a mureta da praça
um pombo.

Ele era velho,
penas rotas e feias.

Com movimentos vacilantes
começou a mostrar as cicatrizes,
seqüelas da vida.

As pernas não tinha,
pedaços de sofrimento.

Uma asa quebrada, guardada na direita,
enquanto a asa esquerda era a muleta,
bamba e sem força.

Moveu-se e caiu do alto da mureta.

A morte sabia que aquilo não era o fim.
Ele só queria parar.
Parar e morrer.

Mas a cidade não deixava.
Ela queria assistir.
Ela queria ver um pouco mais.

Pobre pombo.

Ele queria apenas parar.
Parar e sonhar.
Sonhar com a cidade
quando a via de cima.

Macabro destino do velho pombo
que morria na Praça da Cruz Vermelha,
invisivel,
silencioso
e só.

Daniel Braga

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ilha Grande

Ilha Grande

Ilha Grande, 04/06/1997

Apertado estavam
nossos corações,
dentro da grande barca.
O horizonte nos prometia
mostrar um contorno inconfundível.
E logo vimos
sua silhueta majestosa.
Grande, como da primeira vez.
Misteriosa, como da primeira vez.
Como exploradores
assentamos nosso acampamento.
Ficamos atrás do rio
como outrora fizemos.
Já fazia um ano
e ela continuava esplendorosa.
Por suas trilhas andamos.
Por suas trilhas fomos adotados.
Éramos animais
buscando seu lugar na natureza.
Rastreamos as pegadas
de escravos e senhores.
Éramos índios da grande ilha.
Nos aventuramos a caminhar
e em lugares secretos chegamos,
só nossos olhos sabem
a beleza de sítios assim.
Adversidades encontramos
mas sem desanimar seguimos.
Vimos amazonas viajarem
por caminhos sem medo.
Vimos desconhecidos
não compreenderem a ilha.
Esperamos por outros,
que viriam então passar
a grande virada do ano.
Suas caras não escondiam
a perplexidade pelo singular.
Nas praias de areia branca
fomos descansar
após enveredarmos pela mata.
Vimos Cucas no rio
mas não vão acreditar.
Araras somente observavam
as cenas se repetir.
O sol e o mar
concordaram em ajudar
e pelas vias verdes
encontramos o túmulo da morte
vazio,
abandonado e
em ruínas.
Não era de se esperar
pois então quem deixaria
a dama cadavérica descansar.
Mas fantasmas ali vivem
e entendemos ao olhar.
Então como loucos
seguimos para a Feiticeira.
Muito se passou e
o fundo mutável
que somente ao piscar
virava suas cores
para nos maravilhar.
Mais companheiros chegaram
e trouxeram até nós
a felicidade no olhar.
Num clima sem grilhões
a amizade mais uma vez
se fez mostrar.
Brigas são como lenha
para o fogo da vida não apagar.
Mas negras nuvens anunciaram
que a ilha iria mostrar
o poder de um deus
em terra, céu e ar.
Grossas gotas
batiam em nossas frágeis barracas.
Sons do ralhar materno
sobre seus filhos.
E a grande noite chegou
e a contagem chegava ao fim.
Gritos e canções
dividiam com a lua cheia
a glória de viver
e sem que consigamos
compreender tudo,
de lá saímos outros
e abençoados por seres ancestrais,
sabíamos respeitar
e hoje, para quem quiser constatar
pode ir, a grande ilha ainda está lá.

Daniel Braga

Perdão

Perdão
Rio de Janeiro, 29/09/2000

Eu te ensinei tudo,
Te ensinei a me esquecer,
Te ensinei a não chorar,
Te ensinei a não sofrer.

Eu te ensinei tudo,
Te ensinei a querer,
Te ensinei a lutar,
Te ensinei a viver.

Eu te ensinei tudo,
Te ensinei a amar,
Te ensinei a olhar,
Te ensinei a ser.

Me ensina
Como poderei viver
Se não tenho você.
Como poderei sorrir
Se não te vejo.
Como poderei amar
Se só amo você.

Me ensina
Me ensina como ser forte
Pois muito vivi
E agora sei
Que nada vi.

Me ensina tua força.
Me mostra tua inocência.
Pois só agora chorei.
Pois só agora caí.
Pois só agora percebi
Que és mais.
És única.
É minha filha,
Que amo
E a quem estou fazendo sofrer.

Daniel Braga

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mais um dia

Mais um dia

Rio de Janeiro, 17/11/1997
Falar de mim,
do que sinto,
ainda é muito difícil
mas amar é loucura
e viver é mais.

Não sei tudo
o que deveria saber
e nem sei se deveria
tudo saber,
só penso hoje
que quero ver muito,
dos vários ângulos
do diamante da vida.
Minha essência clama
por paz
que hoje não tenho
nem em meus versos
sem sentido.

Daniel Braga

Trinta e cinco

Trinta e cinco
Rio de Janeiro, 24/12/2008

Poucos poderiam saber
Onde estivemos ontem.

Olho para trás
vendo trinta e quatro rostos
versões antigas de mim.
Elas me olham
e apenas sorriem.

Quem poderia então saber
Que estaríamos hoje aqui.

Quantas cenas.
Quantos risos
Quantos choros.
Quantas alegrias.

Olho então para frente
e vejo uma mão
mas não vejo o rosto.
O futuro me chama
e tenho de seguir.

Quem poderá então saber
Onde estaremos amanhã.

E lá se vão trinta e cinco
E a vida segue em frente!

Daniel Braga

Adega da Alma

Adega da Alma
Rio de Janeiro, 13/10/2010

Prove o que quiser,
escolha a safra.
Alguns agradam,
outros amargam,
mas todos trazem em si
as uvas de minh'alma.

Regadas a sentimentos
e momentos.
Curtidas com sonhos
e medos.
Crescidas no caráter
e nos tropeços.

Uvas colhidas nos anos,
da terra do caminho
e o vento do tempo
afaga as parreiras da vida,
enquanto no horizonte
o sol aquece a alma.

Uvas esmagadas,
momentos sentidos.
Fermentação lenta
das cenas de um homem.
Maturação febril
da alma inquieta.

Prove o que quiser,
escolha a safra.
Alguns agradam,
outros amargam,
mas todos trazem em si
as uvas de minh'alma.
Daniel Braga