segunda-feira, 2 de maio de 2011

Loucura do gárgula

Loucura do gárgula
Rio de Janeiro, 09/12/1996

Foto Gárgulas por João Emanuel Dias Sampainho
            I.
Não deveria ser assim.
Não deveria pensar assim.
O que penso é piada.
Meu nervoso é chacota.
Minha vida não é assim.
Cada batida da música
um novo instante
e só sofro.
Vejo a tudo o que quero
e o que não quero
e só sofro.
Não deveria ser assim.
Mas já não posso fazer nada.

            II.
Como um feixe de luz
o tempo se faz
longo e contínuo.
Redundâncias cansadas.
Pensamentos confusos.
Cada encontro um medo.
Cada medo um tijolo.
Mais um cadeado.
no baú de mim.
Já não o abro mais a ninguém.
E vivo só.
Como um animal acuado
pela minha própria loucura.

            III.
Tenho críticas a mim mesmo,
mas não às faço muito.
Minhas atitudes e erros
repetem-se teimosamente.
Minha pressa e pedantismo
de achar que tenho
a verdade de tudo,
sem saber que não
tenho nada.
Não sou velho,
só não penso como um
jovem.
Como deveria pensar?
E escrevo, só.

            IV.
Sou muito louco
e tenho plena noção disso.
Precisei passar fome
encostado em um hospital
para ver que sou diferente.
Tenho uma alma delicada
em um corpo bruto.
Ilusão para mim mesmo.
Estou sempre tentando esconder
minhas fraquezas.
Não sei falar.
Só escrever.
E não falo, só.

Daniel Braga

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