quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ilha Grande

Ilha Grande

Ilha Grande, 04/06/1997

Apertado estavam
nossos corações,
dentro da grande barca.
O horizonte nos prometia
mostrar um contorno inconfundível.
E logo vimos
sua silhueta majestosa.
Grande, como da primeira vez.
Misteriosa, como da primeira vez.
Como exploradores
assentamos nosso acampamento.
Ficamos atrás do rio
como outrora fizemos.
Já fazia um ano
e ela continuava esplendorosa.
Por suas trilhas andamos.
Por suas trilhas fomos adotados.
Éramos animais
buscando seu lugar na natureza.
Rastreamos as pegadas
de escravos e senhores.
Éramos índios da grande ilha.
Nos aventuramos a caminhar
e em lugares secretos chegamos,
só nossos olhos sabem
a beleza de sítios assim.
Adversidades encontramos
mas sem desanimar seguimos.
Vimos amazonas viajarem
por caminhos sem medo.
Vimos desconhecidos
não compreenderem a ilha.
Esperamos por outros,
que viriam então passar
a grande virada do ano.
Suas caras não escondiam
a perplexidade pelo singular.
Nas praias de areia branca
fomos descansar
após enveredarmos pela mata.
Vimos Cucas no rio
mas não vão acreditar.
Araras somente observavam
as cenas se repetir.
O sol e o mar
concordaram em ajudar
e pelas vias verdes
encontramos o túmulo da morte
vazio,
abandonado e
em ruínas.
Não era de se esperar
pois então quem deixaria
a dama cadavérica descansar.
Mas fantasmas ali vivem
e entendemos ao olhar.
Então como loucos
seguimos para a Feiticeira.
Muito se passou e
o fundo mutável
que somente ao piscar
virava suas cores
para nos maravilhar.
Mais companheiros chegaram
e trouxeram até nós
a felicidade no olhar.
Num clima sem grilhões
a amizade mais uma vez
se fez mostrar.
Brigas são como lenha
para o fogo da vida não apagar.
Mas negras nuvens anunciaram
que a ilha iria mostrar
o poder de um deus
em terra, céu e ar.
Grossas gotas
batiam em nossas frágeis barracas.
Sons do ralhar materno
sobre seus filhos.
E a grande noite chegou
e a contagem chegava ao fim.
Gritos e canções
dividiam com a lua cheia
a glória de viver
e sem que consigamos
compreender tudo,
de lá saímos outros
e abençoados por seres ancestrais,
sabíamos respeitar
e hoje, para quem quiser constatar
pode ir, a grande ilha ainda está lá.

Daniel Braga

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