Poema de ônibus
Rio de Janeiro, 07/11/2008
Estava quente naquele ônibus
quando percebi,
invisível,
sobre a mureta da praça
um pombo.
Ele era velho,
penas rotas e feias.
Com movimentos vacilantes
começou a mostrar as cicatrizes,
seqüelas da vida.
As pernas não tinha,
pedaços de sofrimento.
Uma asa quebrada, guardada na direita,
enquanto a asa esquerda era a muleta,
bamba e sem força.
Moveu-se e caiu do alto da mureta.
A morte sabia que aquilo não era o fim.
Ele só queria parar.
Parar e morrer.
Mas a cidade não deixava.
Ela queria assistir.
Ela queria ver um pouco mais.
Pobre pombo.
Ele queria apenas parar.
Parar e sonhar.
Sonhar com a cidade
quando a via de cima.
Macabro destino do velho pombo
que morria na Praça da Cruz Vermelha,
invisivel,
silencioso
e só.
Daniel Braga
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